Dados do Trabalho


TÍTULO

ISQUEMIA INTESTINAL SECUNDARIA A INFECÇAO POR COVID 19, UM RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

A infecção por COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, tem como principal apresentação a síndrome respiratória aguda grave. Além do acometimento do pneumócito, pode induzir lesão em outros órgãos como intestino, fígado, rins e células do endotélio vascular. Na literatura são descritos alguns casos de isquemia intestinal como complicação tardia da doença.

RELATO DE CASO

Paciente de 74 anos, sexo masculino, previamente hipertenso e obeso. Iniciou com sintomas respiratórios e teste positivo para COVID-19. Com 14 dias de infecção, evolui para insuficiência respiratória, com necessidade de internação em unidade de cuidados intensivos (UTI) e suporte ventilatório invasivo. Com 35 dias na UTI, traqueostomizado e em ventilação mecânica, iniciou quadro de distensão abdominal associado à instabilidade hemodinâmica. Realizado tomografia (TC) de abdome e pelve, que evidenciou pneumatose intestinal em segmento de íleo distal, pneumoperitônio e líquido livre. Paciente encaminhado para tratamento cirúrgico de urgência, sendo submetido a lapatorotomia exploradora. Ao inventário da cavidade, identificado segmento com necrose em íleo terminal e peritonite difusa. Realizada ileocolectomia com ressecção de 60cm do íleo, confecção de ileostomia terminal e fístula mucosa e mantido em laparostomia. Realizado outras duas reabordagens para higienização da cavidade antes da laparorrafia. Em pós operatório tardio, evoluiu com abscesso intracavitário, sendo necessária drenagem percutânea guiada por ultrassom e posicionamento de dreno pigtail. Estudo histopatológico da peça revelou alterações inflamatórias e isquêmicas de etiologia não determinada. Paciente teve alta hospitalar após 3 meses de internação e segue em acompanhamento ambulatorial.

DISCUSSÃO

O vírus SARS-COV-2 utiliza o receptor da enzima conversora de angiotensina II (ACE2), para entrar no espaço intracelular. Esse receptor é expresso em várias células, inclusive células do trato gastrointestinal e endotélio. A ação direta do vírus no enterócito estaria relacionada aos sintomas intestinais como dor abdominal, náuseas, vômitos e diarreia. O mecanismo que levaria à isquemia intestinal, no entanto, ainda é incerto. A hipótese mais defendida pelos autores é a hipercoagulabilidade, associada à lesão direta do endotélio. Alguns relatos de casos descrevem achado de trombo em vasos mesentérios na TC, corroborando essa hipótese. Em outros relatos não há descrição de alterações nos vasos mesentéricos, considerando-se como mecanismo a trombose de pequenos vasos ou isquemia não oclusiva6. A isquemia intestinal associada ao COVID-19 é rara e geralmente tem diagnóstico tardio e, dessa forma, está associada a maiores taxas de mortalidade. Deve-se suspeitar da sua ocorrência em quadros de dor abdominal de início súbito, associada à piora do estado geral do paciente. A TC é o método diagnóstico de escolha principalmente em pacientes que estão sedados e sob ventilação mecânica, nos quais o exame físico pode não ser fidedigno.

PALAVRAS CHAVE

isquemia interstinal, COVID-19, urgência cirúrgica

Área

URGÊNCIAS COLOPROCTOLÓGICAS

Instituições

Felício Rocho - Minas Gerais - Brasil

Autores

JESSICA RODRIGUES GIRUNDI GUIMARAES, RODRIGO DE ALMEIDA PAIVA, HELIDA ALINE TOMACHESKI AMARAL, THAIS ANDRESSA SILVA FAIER, JAIRO SEBASTIAN ASTUDILLO VELEJO, MARCOS FIGUEIREDO COSTA, FABIO LOPES DE QUEIROZ, PAULO ROCHA FRANCA NETO