Título

DISSECÇAO ESPONTANEA ISOLADA DE ARTERIA MESENTERICA SUPERIOR

Introdução

Dissecções de artérias viscerais são eventos nitidamente raros, com manifestações frequentemente inespecíficas, difícil diagnóstico e pouco consenso quanto ao manejo mais adequado. Um dos principais representantes é a dissecção espontânea da artéria mesentérica superior, quadro com incidência mínima na população geral (menos de 100 casos relatados até 2013) e manifestação típica de dor abdominal aguda. Os fatores etiológicos não estão bem estabelecidos, mas parecem estar associados a aterosclerose, displasia fibromuscular, necrose cística medial e doenças do tecido conjuntivo, embora estes não sejam vistos na maioria dos casos descritos. Assim, estudos e relatos acerca do tema podem subsidiar futuras investigações do quadro, ajudando a determinar as principais manifestações da doença, bem como, as melhores condutas e opções terapêuticas frente a um paciente com dissecção de artéria visceral.

Relato de Caso

Relata-se, então, o caso de um homem, 54 anos, dislipidêmico, sem outras comorbidades, que deu entrada ao Pronto Atendimento por queixa de lombalgia esquerda há dois dias, com irradiação para fossa ilíaca esquerda e região inguinal ipsilateral, pouco alívio ao uso de medicações sintomáticas e sem fatores de melhora ou piora relatados. O paciente nega febre ou qualquer outro sintoma urinário associado. Ao exame físico, evidenciou-se um abdômen plano, depressível, com defesa voluntária em mesogástrio e flancos e punho percussão lombar negativa. Prosseguindo a investigação, o exame qualitativo de urina demonstrou ausência de alterações e a Tomografia Computadorizada com contraste evidenciou a presença de uma alteração na artéria mesentérica superior, com diminuição do lúmen e adensamento dos planos perivasculares na topografia, compatível com dissecção associada a um trombo mural. O caso foi discutido pela equipe e a conduta adotada foi a Arteriografia seletiva associada a fibrinólise com Actlyse e anticoagulação plena com Enoxaparina. O paciente evolui com melhora dos sintomas e a Angiotomografia de controle mostrou efetiva correção do quadro.

Discussão

Pouco pode-se afirmar hoje acerca das dissecções de artérias viscerais, mas desconfia-se de uma homogeneidade entre os sexos, com os homens ligeiramente mais afetados e idade média de acometimento aos 55 anos, características semelhantes ao quadro aqui descrito. Quanto às medidas terapêuticas, opções difundidas são o tratamento conservador com observação clínica e medidas de suporte, terapia anticoagulante, intervenção endovascular ou cirurgia aberta, e a aqui instituída foi a correção endovascular, com fibrinólise do trombo intramural e anticoagulação plena. A escolha de tal tratamento está relacionada, dentre outros motivos, à possível evolução desfavorável, à sintomatologia e à prevenção contra riscos deletérios de evolução, como a necrose intestinal, sangramento e choque hipovolêmico. Ademais, espera-se que a discussão do presente caso contribua para a escassa literatura e fomente novas discussões futuras acerca do tema.

Palavras Chave

Artéria Mesentérica Superior. Aneurisma Dissecante. Fibrinólise. Angiografia.