Dados do Trabalho


Título

ILEO BILIAR - UMA RARA COMPLICAÇAO DA COLECISTOLITIASE

Introdução

A colecistolitíase é uma das enfermidades mais comuns para o cirurgião geral, com prevalência de 5-25% na população. Grande parte dos casos é assintomática, com diagnóstico acidental em exame de imagem. Entretanto, 2% dos portadores tornam-se sintomáticos ao ano, de modo que a colecistite aguda, pancreatite aguda biliar e coledocolitíase são as complicações mais frequentes. Cerca de 0,5% dos portadores de colecistolitíase desenvolvem fístula entre a vesícula e o trato gastrointestinal, com consequente obstrução, sendo consagrado o termo íleo biliar, pelo fato do local mais frequente de obstrução ser o íleo terminal (60-85% dos casos), mas podendo impactar no sigmóide (4%), ou duodeno, levando à síndrome de Bouveret. A fístula ocorre em 70% dos casos com o duodeno, 20% no cólon, 10% no estômago e raramente no jejuno.

Relato de Caso

Paciente do sexo feminino, 67 anos, hipertensa e três angioplastias por doença coronariana. Procurou o pronto socorro por quadro de abdome agudo obstrutivo. Realizada tomografia computadorizada de abdome, constatando-se imagem radiopaca de aproximadamente 12 centímetros (cm) na topografia das alças jejunais, distensão de alças de delgado a montante. Submetida à laparotomia exploratória, identificando intensa aderência em hipocôndrio direito. Ponto de obstrução a cerca de 150 cm do ângulo de Treitz, sendo realizado enterotomia e extração de cálculo de aproximadamente 12 cm, seguido de enterorrafia. Optou-se pela abordagem da vesícula biliar no mesmo tempo cirúrgico, com correção da fístula entre o infundíbulo e duodeno e drenagem da cavidade. Paciente evoluiu no pós-operatório com necessidade de suporte em terapia intensiva por 10 dias, necessidade de nutrição parenteral e apresentando fístula biliar, resolvida após realização de papilotomia por colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE). Apresenta-se em seguimento ambulatorial.

Discussão

Segundo Sivagnanam et al., o íleo biliar foi descrito pela primeira vez por Bartholin em 1654, e em 1941 Rigler descreveu a tríade de aerobilia, obstrução intestinal e impactação de cálculo biliar no trato intestinal. Por acometer em até 25% dos casos pacientes idosos, com comorbidades, associado ao diagnóstico tardio, a mortalidade do íleo biliar é de 12-27%. Além de ser complicação incomum da colecistolitíase, o íleo biliar também é infrequente no abdome agudo obstrutivo, respondendo por 1-4% das obstruções intestinais. Assim, sua hipótese não costuma ser aventada precocemente e o diagnóstico é tardio. Contribui para o difícil diagnóstico o fato de que 50% dos pacientes desconhecem antecedente de colelitíase. A eliminação do cálculo naturalmente é rara (1,3%), sendo a cirurgia mandatória. A depender das condições do paciente, três táticas cirúrgicas são possíveis: apenas enterolitotomia para remoção do cálculo; colecistectomia e enterolitotomia; ou enterolitotomia e posterior colecistectomia e fechamento da fístula.

Palavras Chave

fístula biliar - vesícula biliar - colecistolitíase - obstrução intestinal

Área

VIAS BILIARES

Instituições

UNIFESP - Escola Paulista de Medicina - São Paulo - Brasil

Autores

Euller Cristian Pinto, Júlia Paes Rosa, Diego Fernandes Martinez Palma, Maíra do Patrocínio Padilha, Felipe David Mendonça Chaim, Maija Fabiana Ramos Pereira, Eduardo Iwanaga Leão