Dados do Trabalho
Título
FARMACOBEZOAR COMO CAUSA RARA DE ABDOME AGUDO OCLUSIVO: UM RELATO DE CASO
Introdução
Quadros de Abdome Agudo Oclusivo (AAO) são frequentes em unidades de urgências cirúrgicas. As etiologias são variadas, dentre elas, o bezoar é causa incomum. Nosso relato trata de um paciente com quadro de AAO alto em que a Tomografia Computadorizada (TC) de abdome evidenciou "artefato" em topografia de delgado, com hipótese de bezoar no intraoperatório e confirmação posterior de farmacobezoar por alginato.
Relato de Caso
W.L, 73 anos, masculino deu entrada com quadro de dor e distensão abdominal há 9 dias, associado a náusea, vômitos, hiporexia e constipação. O paciente teve 2 passagens em nosso serviço com quadro similar e melhora após passagem de sonda nasogastrica, clister glicerinado e sintomáticos. De antecedentes, negou cirurgia prévia ou perda de peso, relatou atendimentos recentes para confecção de prótese dentária, com uso de alginato como material de moldagem, e deglutição acidental do produto nas sessões. Ao exame físico: REG, abdome distendido, RHA+, timpânico, dor difusa à palpação, sem peritonite. Toque retal sem alterações. Exames laboratoriais com leucocitose (15.400), desvio à esquerda, PCR de 46,8 e demais sem alteração. A TC de abdome mostrou distensão de delgado com presença de corpo amorfo, de 5cm x 2,5cm e líquido inter-alças e pelve. Indicada a Laparotomia Exploradora (LE), o inventário mostrou distensão de delgado e corpo estranho de aspecto siliconado em íleo proximal, com área de isquemia e ponto de perfuração. Foi feita enterectomia (10cm) e anastomose primária. O paciente evoluiu bem, com alta no 4º PO.
Discussão
O AAO, compõe 20% da internações em leito cirúrgico. Das possíveis etiologias, as aderências compõem 60% dos casos, outras também frequentes são hérnias encarceradas, tumores e fecalomas. O bezoar é causa rara, responsável por 0,4-4% do total. A classificação do bezoar ocorre pelo composto: tricobezoar é o mais comum, seguido por fitobezoar, lactobezoar, farmacobezoar, dentre outros. No caso relatado, a obstrução ocorreu por farmacobezoar (alginato). Classicamente, o AAO apresenta distensão abdominal, acompanhada ou não de peritonite, timpanismo, ausculta com ruídos metálicos ou hipoatividade, toque retal com ampola vazia, a depender da altura da obstrução e cronologia do quadro. Nosso paciente apresentou AAO alto de vários dias de evolução, sinais e sintomas coerentes à obstrução alta e períodos temporários de melhora. O Rx de abdome é o exame inicial com diagnóstico em 50-75% dos casos, feito deitado e em ortostase. A TC pode mostrar, distensão de alças, sinais inflamatórios, líquido livre, ou mesmo imagem sugestiva, como no relato descrito. O tratamento específico do Bezoar compreende a abordagem endoscópica, a depender do local de obstrução, e medidas clínicas, como pró-cinéticos, clister glicerinados e substâncias químicas. A cirurgia é muitas vezes indicada, como no caso descrito, com a retirada do bezoar, seja pela enterectomia ou enterotomia e rafia do segmento acometido, a depender do inventário intra-operatório.
Palavras Chave
laparotomia; alginato; bezoar
Área
ESTÔMAGO E INTESTINO DELGADO
Instituições
Faculdade de Medicina de Marília - FAMEMA - São Paulo - Brasil
Autores
André Claudio Rocha, Yordanis Cruz Matos, Diego de Oliveira Ros, Victor Araki, Inaia Lukachak da Mata, Jefferson Ferreira Araujo