Dados do Trabalho
Título
FISTULOCLISE NO MANEJO NUTRICIONAL DO PACIENTE COM FISTULA DIGESTIVA
Introdução
O manejo do paciente com fístula digestiva é complexo e está relacionado a altos índices de morbimortalidade, sendo a desnutrição, a sepse e o desequilíbrio eletrolítico as principais causas de óbito. Nesse contexto, o suporte nutricional e metabólico representa um dos pilares do tratamento, exigindo trabalho multiprofissional e condutas dinâmicas e individualizadas. A fistuloclise é uma técnica relativamente nova que consiste na administração de nutrição enteral via um tubo de alimentação inserido diretamente através de uma fistula intestinal de alto débito.
Relato de Caso
Paciente masculino, 23 anos, admitido no setor de emergência vítima de ferimento único por projetil de arma de fogo transfixante do abdome. Evoluiu com múltiplas complicações decorrentes de fístula digestiva entero-atmosférica da segunda porção duodenal, sendo inicialmente manejado com abdome aberto, suporte nutricional parenteral, octreotide e controle do conteúdo efluente. Devido ao não fechamento espontâneo da fístula, foi submetido a tratamento cirúrgico com gastroenteroanastomose após três meses de manejo clínico. Evoluiu com fístula gastro-atmosférica de alto débito (>2,5 litros/dia) nas proximidades da anastomose gastrojejunal, com exteriorização de mucosa labiada em placa de peritoniostomia. Durante a internação, apresentou múltiplas complicações decorrentes da terapia nutricional parenteral, incluindo elevação de enzimas hepáticas, trombose venosa e infecções relacionadas a cateter. Optou-se pela canulação da fístula com sonda digestiva sob controle radiológico contrastado, sendo iniciada e mantida nutrição enteral por três meses. Após melhora dos parâmetros nutricionais, o paciente foi finalmente submetido a ressecção da fístula e gastrorrafia com sucesso. Permaneceu internado recebendo dieta oral com suplementação enteral até recuperação adequada do peso, tendo alta hospitalar após nove meses de internação.
Discussão
Atualmente, a preferência pelo suporte nutricional enteral sempre que possível é a regra, como forma de manutenção do trofismo da mucosa intestinal, além de menores riscos de complicações trombóticas e infecciosas e menor custo se comparado à nutrição parenteral. No caso descrito, a fistuloclise permitiu a redução da nutrição parenteral e uma recuperação parcial da função intestinal e dos parâmetros nutricionais do paciente, determinando um melhor resultado após a correção cirúrgica da fístula e reestabelecimento do trânsito intestinal.
Palavras Chave
Fístula do Sistema Digestório; Fístula Gástrica; Fístula Intestinal; Terapia Nutricional; Nutrição Enteral
Área
MISCELÂNEA
Instituições
Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre - Rio Grande do Sul - Brasil
Autores
Mariana Kumaira Fonseca, Carlos Eduardo Bastian da Cunha, Luiza Leonardi, Mauro de Souza Siebert Júnior, Luis Fernando Strauch de Mello, Ricardo Breigeiron, Jair Garcia da Silva, João Vilnei Franco Filho