NEUROTOXICIDADE POR BENZONIDAZOL EM PACIENTE TRANSPLANTADO RENAL: RELATO DE CASO
O benzonidazol é o único tratamento disponível comercialmente para a doença de Chagas na fase aguda. Seus efeitos colaterais incluem cefaleia, insônia, fraqueza muscular, polineuropatia com parestesias em bota ou luva, disartria e ataxia, geralmente surgindo após 40 dias de tratamento e/ou administração maior que 18g (dose cumulativa).
AFS, masculino, 59 anos, doente renal crônico de etiologia indeterminada, submetido a transplante renal em novembro de 2016 de doador falecido que apresentava sorologia positiva para Chagas. Foi prescrito benzonidazol 350mg 12/12h por 30 dias para tratamento preemptivo, conforme protocolo do serviço. Após 60 dias em uso da droga (por conta própria), o paciente retornou com queixa de parestesia e fraqueza em membros inferiores, disartria e ataxia, sendo internado para investigação. RNM cerebral mostrou lesão sugestiva de neurotoxicidade por metronidazol.
Uma semana após suspensão da droga o paciente recebeu alta hospitalar assintomático.
Alguns serviços de transplante de órgão de áreas endêmicas recebem enxertos de doadores com sorologia positiva para doença de Chagas, sendo realizado tratamento preemptivo ou rastreio periódico através de parasitemia. Nesse caso inicia-se o tratamento apenas quando o parasita é encontrado, uma vez que os efeitos colaterais da droga são bastante frequentes e a taxa de infecção dos receptores é de apenas 18%, sendo a cura alcançada facilmente na grande maioria dos casos.
Tal relato coloca em pauta a discussão sobre a indicação de tratamento preemptivo do parasita, uma vez que a infecção ocorre em menos de um quinto dos receptores e o tratamento pode ter como consequência efeitos colaterais que poderiam ser evitados.
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REAL HOSPITAL PORTUGUES - Pernambuco - Brasil
BRUNO KOSMINSKY, HEVILA SUELEN NERI DE LIMA, PRISCILA TIBURTINA DE OLIVEIRA, RENATA BARRETTO LINS GABRIEL, LARA REBOUÇAS